Bem, após 49 anos, Fidel Castro renúncia ao poder de Cuba. Um fato de muita importância histórica, e que merece um lugar no blog. Segue abaixo a publicação do Diário Catarinense, que diz ter a carte de renúncia na íntegra, mas caso algum companheiro consiga uma versão ou tradução melhor ,ou mesmo no original, peço que poste, para que possamos compartilhar das lágrimas dos sofridos cubanos vendo o último discurso de seu líder máximo ... e que devem estar felizes pelo tempo que economizarão doravante!
Queridos compatriotas:
Lhes prometi na sexta-feira passada, 15 de fevereiro, que na próxima reflexão abordaria um tema de interesse para muitos compatriotas. A mesma adquire, desta vez, a forma de mensagem: Chegou o momento de postular e eleger ao Conselho de Estado, seu presidente, vice-presidente e secretário. Desempenhei o honroso cargo de presidente ao longo de muito anos. Em 15 de fevereiro de 1976 foi aprovada a Constituição por voto livre, direto e secreto de mais de 95% dos cidadãos com direito a votar. A primeira Assembléia Nacional se constituiu em 2 de dezembro deste ano e elegeu o Conselho de Estado e seu presidente. Antes, havia exercido o cargo de primeiro-ministro durante quase 18 anos. Sempre dispus das prerrogativas necessárias para levar adiante a obra revolucionária com o apoio da imensa maioria do povo. Conhecendo meu estado crítico de saúde, muitos no Exterior pensavam que a renúncia provisória ao cargo de presidente do Conselho de Estado em 31 de julho de 2006, que deixei nas mãos do primeiro vice-presidente, Raúl Castro Ruz, era definitiva. O próprio Raúl, que adicionalmente ocupa o cargo de ministro das FAR por méritos pessoais, e os demais companheiros da direção do partido e o Estado, foram renuentes a considerar-me afastado dos meus cargos, apesar de meu precário estado de saúde. Era incômoda minha posição frente a um adversário que fez o imaginável para desfazer-se de mim e em nada me agradava satisfazê-lo. Mais adiante pude alcançar de novo o domínio total de minha mente, a possibilidade de ler e meditar muito, obrigado pelo repouso. Me acompanhavam as forças físicas suficientes para escrever por longas horas, as que dividia com a reabilitação e os programas pertinentes de recuperação. Um elemental sentido comum me indicava que essa atividade estava a meu alcance. Por outro lado, me preocupou sempre, ao falar de minha saúde, evitar ilusões que, no caso de um desenlace adverso, trariam notícias traumáticas a nosso povo no meio da batalha. Prepará-lo para minha ausência, psicológica e politicamente, era minha primeira obrigação depois de tantos anos de luta. Nunca deixei de assinalar que se tratava de uma recuperação "não isenta de riscos". Meu desejo sempre foi cumprir o dever até o último suspiro. É o que posso oferecer. A meus íntimos compatriotas, que me proporcionaram a imensa honra de me eleger em dias recentes como membro do parlamento, em cujo seio se devem adotar acordos importantes para o destino da nossa Revolução, comunico-lhes que não aspirarei nem aceitarei — repito — não aspirarei nem aceitarei, o cargo de presidente do Conselho de Estado e Comandante-em-chefe. Em breves cartas dirigidas a Randy Alonso, diretor do programa Mesa Redonda da Televisão Nacional, que por minha solicitação foram divulgadas, se incluíam discretamente elementos desta mensagem que hoje escrevo, e nem sequer o destinatário das missivas conhecia meu propósito. Tinha confiança em Randy porque o conheci bem quando era estudante universitário de Jornalismo, e me reunia quase todas as semanas com os principais representantes dos estudantes universitários do que já era conhecido como o interior do país, na biblioteca da ampla casa de Kohly, onde se hospedavam. Hoje todo o país é uma imensa universidade. Parágrafos selecionados da carta enviada a Randy em 17 dezembro de 2007: "Minha mais profunda convicção é que as respostas aos problemas atuais da sociedade cubana, que possui uma média educacional próxima a 12 graus, quase 1 milhão de graduados universitários e a possibilidade real de estudo para seus cidadãos sem discriminação alguma, requerem mais variantes de resposta para cada problema concreto que as contidas em um tabuleiro de xadrez. Nem só um detalhe sequer pode ser ignorado, e não se trata de um caminho fácil, se é que a inteligência do ser humano em uma sociedade revolucionária permaneça sobre seus instintos. Meu dever elemental não é aferrar-me a cargos, muito menos obstruir a passagem de pessoas mais jovens, e sim aportar experiências e idéias cujo modesto valor provém da época excepcional que vivi. Penso como Niemeyer que há que ser conseqüente até o final." Carta de janeiro de 2008: "... Sou decidido partidário do voto unido (um princípio que preserva o mérito ignorado). Foi o que nos permitiu evitar as tendências de copiar o que vinha dos países do antigo campo socialista, entre elas o retrato de um candidato único, tão solitário como tão solidário com Cuba. Respeito muito aquela primeira tentativa de construir o socialismo, graças à qual pudemos continuar o caminho escolhido. Tinha muito presente que toda a glória do mundo cabe num grão de milho", reiterava, naquela carta. Trairia minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer uma mobilidade e entrega total que não tenho condições físicas de oferecer. O explico sem drama. Afortunadamente, nosso processo conta ainda com quadros da velha guarda, junto a outros que eram muito jovens quando se iniciou a primeira etapa da Revolução. Alguns se incorporavam quase crianças aos combatentes das montanhas e depois, com seu heroísmo e suas missões internacionalistas, encheram de glória o país. Contam com a autoridade e experiência para garantir a substituição. Dispõe igualmente nosso processo da geração intermediária, que aprendeu junto a nós os elementos da complexa e quase inacessível arte de organizar e dirigir uma revolução. O caminho sempre será difícil e requererá esforço inteligente de todos. Desconfio das sendas aparentemente fáceis da apologética, ou a autoflagelação como antítese. Preparar-se sempre para a pior das variantes. Ser tão prudentes no êxito como firmes na adversidade é um princípio que não se pode esquecer. O adversário a derrotar é sumamente forte, mas o temos mantido à risca durante meio século. Não me despeço de vocês. Desejo apenas combater como um soldado das idéias. Seguirei escrevendo sob o título Reflexões do Companheiro Fidel. Será uma arma a mais do arsenal com a qual se poderá contar. Talvez minha voz seja escutada. Serei cuidadoso. Obrigado Fidel Castro Ruz 18 de fevereiro de 2008 17h30minTradução: Rossana Silva
Um comentário:
Eu ainda acho que o Fidel poderia tentar quebrar o próprio recorde e fazer um discurso de, sei lá, 23 horas só para o Chavez avisando de sua renuncia. Quem sabe morresse e levasse o Chavez consigo (consequentemente o Evo cometeria suicídio... ahahahahahhahahaha). Pronto! 3 problemas a menos...
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