domingo, 17 de fevereiro de 2008

'Tropa de Elite' leva o Urso de Ouro

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Filme brasileiro surpreende e se consagra como vencedor do principal prêmio do Festival de Cinema de Berlim

Luiz Carlos Merten

Convidado a participar da cerimônia de premiação e encerramento do 58º festival de Berlim, o diretor José Padilha, de Tropa de Elite, sabia, a partir daí, que seria um dos vencedores da noite. A questão era qual prêmio lhe seria atribuído. Eles começaram a ser entregues. Favoritismos foram derrubados. Sobrou só o Urso de Ouro de melhor filme. E o Brasil chegou ao topo, mais uma vez, na Berlinale.

Dez anos depois de Central do Brasil, de Walter Salles, Tropa de Elite, outro filme brasileiro, recebido a pedradas pela crítica da revista Variety, que o chamou de fascista e comparou o personagem capitão Nascimento a Rambo, chegou lá. Padilha subiu ao palco em companhia do produtor Marcos Prado. Fez um agradecimento especial ao presidente do júri. Disse que Costa-Gavras, por seu cinema político, era um herói e uma referência para todos os cineastas da América Latina. E que receber o prêmio de um júri por ele presidido atribuía um significado especial ao que já era uma honra. “Obrigado, thank you, danke. Em qualquer língua, é muito difícil traduzir a emoção que estamos sentindo”, disse Padilha. Marcos Prado foi incisivo. Lembrou que, há dois anos, Padilha lhe disse que havia visto o melhor filme do mundo, o documentário Estamira, que Prado realizou. “Agora, posso dizer que ele fez o melhor filme do mundo, um filme que denuncia a corrupção e a violência da polícia e da sociedade brasileiras. Este prêmio é uma realidade. Vai nos permitir lutar contra esta realidade.”

No Brasil, o secretário de audiovisual do Ministério da Cultura, Silvio Da-Rin, disse que a notícia da vitória é “gloriosa” para o cinema brasileiro. “O prêmio vai ampliar bastante as possibilidades das produções nacionais no exterior.”

Mutum, de Sandra Koguti,baseado em livro de Guimarães Rosa, levou menção especial na mostra paralela para crianças. Café com Leite, de Daniel Ribeiro, que conta história de casal homossexual que cuida de uma criança, foi o melhor curta jovem. Tá, curta do carioca Felipe Sholl, levou o prêmio Teddy, para filmes de temática homossexual.

O júri deu o prêmio de direção e o troféu à melhor contribuição artística para Sangue Negro, de Paul Thomas Anderson. E ousou, premiando como melhor ator o iraniano Reza Najie, por A Song of Sparrows, de Majid Majidi. Havia toda uma campanha para premiar Happy-Go-Lucky, de Mike Leigh, mas no final o filme levou apenas o prêmio de melhor atriz para Sally Rowlins.

Padilha agradeceu a muita gente, começando por Wagner Moura, o excepcional intérprete do capitão Nascimento. Agradeceu também ao distribuidor norte-americano Harvey Weinstein, ex-Miramax. O Urso de Ouro não deixa de ter sido uma vitória do próprio Weinstein. Foi ele quem pressionou a organização a colocar o filme de Padilha em concurso, quando Tropa já havia sido selecionado para a seção Panorama.

A questão agora é saber se Weinstein, com o aval deste prêmio tão importante em Berlim, conseguirá emplacar Tropa de Elite no Oscar do ano que vem, como fez com Cidade de Deus, apadrinhando a carreira internacional de Fernando Meirelles.

APOTEOSE

A entrada de Padilha no salão de coletivas foi apoteótica. Ele foi recebido com gritos e aplausos. Padilha lembrou que fez diversos documentários e, no fundo, se considera um documentarista. Tropa de Elite é sua única ficção e ele procurou trazer muito de sua experiência anterior para a realização. Seu compromisso era retratar (e criticar) a realidade brasileira, e isso ele acha que conseguiu. Padilha não considera que o sucesso de seu filme e o de Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, possa estar criando uma nova tendência do cinema brasileiro.

“Seria muita pretensão. O cinema brasileiro é muito mais do que favela e violência. Na verdade, não faço filmes sozinho, ninguém faz. Pertenço a uma comunidade cinematográfica e entendo que esta vitória é de todos. Do Marcos Prado, meu produtor, do Lula Carvalho, um grande diretor de fotografia, do Wagner Moura, um grande ator brasileiro.”

A coletiva terminou com gritos de “viva”. A vitória foi um desagravo à crítica que ele recebeu da revista Variety. O carinho do público foi a melhor demonstração disso.

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