sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Little things

Pequenas coisas... a música irritante, numa língua desconhecida, em noite sem algo para fazer. Dormir seria uma boa, por um lado. Por outro soaria como desaforo. Vou até ela e sua cara de sono, num mundo que não é meu? Imagino a cena: um encontro silencioso, um estar perto que muita coisa poderia dizer, e que não seria por mim delimitado em sua significância correta no outro dia. Ficaria no podendo dizer muita coisa, ao menos enquanto a realidade não esclarecesse seus fios. Se bem que a realidade é factual, não se esclarece, é evidente – ou ao menos tomá-la assim parece-me coerente. E se é assim, a realidade não é o problema...
Bom, quanto ao encontro, ela se encostaria em mim em seu sono, e seus olhos me fitariam quase que como num sonho. Sua respiração seria baixa, o corpo entregue a um estar no mundo sem grandes responsabilidades, sem um ideal maior. Seu olhar, ao me fitar, me atravessaria – não há necessidade de compreensão, gratidão, ódio. O toque das mãos como um quase adeus, como se a pele de ambos fosse algo que já não pudesse ser descoberto. Não haveria ode a ou b, não seria amaldiçoada a vida, quanto tão pouco sua celebração se expressaria. Ocorreria um sentimento de frio, vento gelado e folhas que farfalham num outono de uma de nossas memórias. Abrigo, sim, quereríamos um abrigo. Mas não um no outro. Quereríamos um abrigo em nós de toda solidão do mundo presente num dia frio. Ela atravessaria a rua e iria para seu quarto, poderia voltar finalmente ao seu mundo de sonhos, ao menos por umas horas. E eu? Isso fica para uma outra hora.

Um comentário:

Adalberto Proença disse...

cara,
é de graças à sutilezas, seu grão de sal,

que vejo-te num estilo vívido.
longe do meu burlesco.
ahah, viu só.

abraço